No outro dia calhou ir à missa, nunca tinha ido. A primeira coisa que reparei foi na quantidade de gente constipada, o que foi pena, porque o silêncio estava constantemente a ser interrompido por tosses e outro tipo de roncos e ruídos guturais.
Por fim lá apareceu um senhor vestido com uma coisa verde e uma saia branca até aos pés, que devias ser importante, porque toda a gente se levantou. Eu, depois de uns quantos olhares em que senti alguma recriminação, decidi levantar-me e colaborar no espírito de abertura e amor universal.
A coisa começou por prometer, quando o senhor verde disse “felizes os convidados para a ceia do senhor”. Porreiro, dão jantar, pensei. Mais tarde é que vi que o jantar era composto exclusivamente por uma fina bolachinha de pão branco, em que ainda por cima esqueceram-se de por sal. Também havia vinho mas devia ser pouco porque só o verde é que bebeu.
Às tantas passaram um cestinho com moedas, mas achei por bem não me servir, o dinheiro podia fazer mais falta a outros. Ainda por cima, pensava eu, o jantar estava assegurado. Se fosse agora talvez tivesse aceite uns euros para ir jantar.
Gostei da parte em que uma senhora se levantou e foi ler umas coisas. Achei que seria meu dever contribuir e fazer o mesmo. Aproveitei que tinha comprado o 24Horas, subi a uma espécie de palanque e comecei a ler um artigo muito interessante sobre sexo seguro, mas por azar, o verde e mais umas quantas senhoras resolveram desmaiar nessa altura e tive que interromper.
Um parte que não entendi foi quando, estando eu concentrado na decoração do espaço – repetitiva, à base de cruzes – começou toda a gente a beijar-se, tendo algumas senhoras puxado violentamente o meu braço, espetando um bigodudo beijo na minha face. Por momentos receei que aquilo fosse descambar para um bacanal e vendo-me perante a perspectiva de carne feminina que se me oferecei às vista – digamos que seriam poucas as que teriam nascido depois de Mário Soares – e o aspecto algo efeminado do gajo de verde e saia, achei melhor ir para a fila do jantar e pirar-me depois.
Acabei por comer a bolacha e bazei para ir despachar umas sandes de coirato e uma mines.
Arcebispo de Cantuaria
09 novembro 2005
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